segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Saúde do homem:
Ainda um estereótipo de gênero?

O Brasil é o segundo país do continente americano que implementou uma Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, lançada em 2009 pelo Ministério da Saúde, e tem por objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, em resposta à observação de que os agravos do sexo masculino são um problema de saúde pública em consonância com o fato de que vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevadas.
Diante dos dados em relação ao conjunto de casos de varias doenças e os seus agravos à saúde da população masculina e mais especificamente relativos ao câncer de próstata, entende-se que essa iniciativa do Ministério da Saúde constitui um marco em relação à saúde do homem e certamente resultará em avanços significativos nesse sentido.
No Brasil existe uma lei sobre as ações que sinalizam preocupação com a saúde do homem, Lei 10.289, de 20 de setembro de 2001, que dispõe sobre a Instituição do Programa Nacional de Controle do Câncer de Próstata. Nela são estabelecidas, entre outras, as seguintes ações:
I – campanha institucional nos meios de comunicação, com mensagens sobre o que é o câncer de próstata.
III – parcerias com universidades, sociedades civis organizadas e sindicatos, organizando-se debates e palestras sobre a doença e as formas de combate e prevenção a ela;
IV – outros atos de procedimentos lícitos e úteis para a consecução dos objetivos desta instituição - a qual posteriormente necessitou sofrer alterações para adequar-se a critérios técnico-científicos.
II – parcerias com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, colocando-se à disposição da população masculina, acima de quarenta anos, exames para a prevenção ao câncer de próstata.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde responsável pela prevenção e controle do câncer no Brasil os tipos mais incidentes, com exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de pulmão e de próstata no sexo masculino. No Brasil, o câncer de próstata é o mais incidente entre os homens, na Região Centro-Oeste e o mais frequente nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte.
Fatores que determinam o risco de desenvolvimento do câncer de próstata também não são bem conhecidos, apesar de alguns terem sido identificados. Entre eles destacam-se a idade avançada, origem étnica – maior incidência em negros – e origem hereditária.
Existem agentes potencializadores ou minimizadores na determinação do risco do câncer de próstata. Dentre os que possivelmente atuam na diminuição do risco destacam-se uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, vegetais, grãos, cereais integrais e pobre em gordura, principalmente as de origem animal. Um exemplo sobre isso pode ser dado através de alguns estudos epidemiológicos apontados de que a doença é dez vezes mais prevalente em norte-americanos do que em japoneses que residem no Japão. A prevalência se iguala, quando os japoneses passam a residir nos EUA, indicando que os fatores ambientais e alimentares contribuem na formação dessas células cancerígenas. Portanto o tipo de dieta aumenta ou diminui os riscos de câncer de próstata. Outros fatores como o tabagismo, o etilismo e a vasectomia também são passíveis de influenciar potencialmente o desenvolvimento do câncer de próstata.
Nesse sentido, mais estudos estão em andamento tentando esclarecer o papel dos fatores de risco e seu potencial para o sucesso na prevenção contra o câncer de próstata. Sabe-se que os fatores hereditários são importantes na determinação do risco de desenvolver clinicamente esse tipo de câncer.
A definição ou os conceitos construídos por partes da sociedade ao longo do tempo de que o homem é um ser “bruto”, “forte”, “agressivo” enquanto a mulher é mais “meiga”, “delicada”, “frágil”, “doce” podem influenciar em questões relacionadas à saúde.
Os homens procuram menos os serviços de saúde e uma das possíveis explicações para isso seria em relação à preservação de sua masculinidade, enquanto o homem está associado à invulnerabilidade, força e virilidade. Essas características do homem mostram-se incompatíveis com a demonstração de fraqueza representada pela procura aos serviços de saúde, além do que há uma dificuldade do homem muitas vezes em falar sobre seus problemas de saúde, pois significaria uma fraqueza.
Outra dificuldade exposta pelos homens, baseada em um estudo, é a incompatibilidade dos horários de funcionamento dos serviços de saúde com sua carga horária de trabalho além de muitas vezes quando procuram o atendimento enfrentam filas, perdendo assim um dia de trabalho, com essa precariedade os participantes do estudo afirmam que só buscam por atendimento em situações de emergência ou em alguma impossibilidade de ir ao trabalho.
Outra justificativa é quanto à exposição do paciente a outro homem ou a uma mulher que também é apontada, nesses casos o câncer de próstata foi o tema utilizado para tal justificativa, nos exames é necessário examinar as partes genitais masculinas. Isso afetaria de alguma maneira a sua integralidade, esse é mais um ponto importante para entender o porquê os homens procuram menos os serviços de saúde quando comparado às mulheres.
Vários motivos acarretam aos homens o surgimento de doenças, entre eles a busca pela "prova da masculinidade" é comum de encontrar e atinge muitos jovens como, por exemplo, temos o início da sexualidade que a cada dia inicia mais cedo e quando não há métodos preventivos pode trazer malefícios como DST e AIDS. Um dos clássicos eventos da masculinidade no serviço de saúde é o exame preventivo de Câncer de próstata, pois o exame precisa do toque retal e muitos homens não o fazem por conta do método ser invasivo.
Um determinante social que também influencia na realização de exames preventivos é a escolaridade tendo em vista que muitos homens que tem escolaridade fazem com maior frequência os exames e na população masculina de baixa escolaridade fazem com menos frequência o exame de próstata não sendo isto uma regra.
Com relação à prevenção a esse tipo de câncer com analise do exame de PSA e o exame do toque existem homens que apresentam certa resistência para a realização desses exames por questões culturais ou pessoais possibilitando a eles terem um diagnóstico tardio que dificulta o tratamento da doença e possivelmente acaba sendo vítima da sua própria masculinidade.
Em relação à dosagem de PSA e toque retal, tanto foram identificadas recomendações de não se excluir a dosagem de PSA e o exame do toque digital como medidas de detecção precoce contra o câncer de próstata, quanto foram identificados documentos que apontam que não há evidências sobre o sucesso na redução da mortalidade com o rastreamento de pacientes pela dosagem de marcadores como o PSA e que muitos homens podem estar sendo conduzidos a cirurgias desnecessárias.
Espaços de atuação da promoção da saúde do homem podem ser promovidos, inclusive nas situações do cuidado hospitalar, o que é pertinente na medida em que os homens, diferentemente das mulheres, procuram os serviços, na maioria das vezes, para atendimentos de emergência e não de forma determinada e programada para manutenção da saúde.
Outro aspecto importante no que diz respeito a pacientes com câncer de próstata e o seu tratamento é o apoio psicológico dado a eles. Quando quimioterapias, prostatectomia radical que levarão a mudança da qualidade de vida são necessárias, o homem tende a ficar depressivo e necessita de mais apoio no grupo familiar e social e quando esses apoios não são suficientes, é aconselhado que ele procurasse um grupo de apoio para homens com câncer de próstata, para que recebam ajuda com o compartilhamento de experiências por conhecer e ouvir pessoas que estão na mesma situação.
Esses grupos auxiliam na adaptação aos rigores do tratamento, reduzem o estresse e favorecem no incremento da qualidade de vida. Os participantes que entram em contato com pessoas que compartilham das mesmas sensações, ajuda na aceitação do tratamento e da doença e consequentemente uma melhora significativa no quadro clínico, social e psicológico.
Um dos grandes problemas dos homens com o câncer de próstata é a fragilidade que sentem em relação à identidade sexual que é reflexo dos procedimentos realizados no tratamento além do que esses grupos também podem ser visitados pelas esposas que compartilharão experiências com outras mulheres. Contudo, a avaliação da melhor forma de abordagem do grupo deve se redefinir de acordo com as necessidades dos participantes.
Diante de todos os expostos, sugere-se que os profissionais da saúde em diferentes espaços de cuidado, acompanhem os resultados de estudos que apresentem melhores níveis de evidência em termos de prevenção do câncer de próstata e fatores de risco, o que também poderá oferecer subsídios de condutas a serem seguidas.
Considera-se necessário também que novas pesquisas sejam conduzidas na área da promoção da saúde, prevenção do câncer e grupos de apoio a homens com câncer de próstata bem como que ocorram mudanças na educação formal da população e no ensino específico dos profissionais da área da saúde, uma vez que estes podem proporcionar uma melhoria significativa aos programas de promoção da saúde e prevenção do câncer pelos indivíduos.
Sobre os grupos de apoio a homens com câncer já se conhece sua importância como forma de tratamento e reintegração dos indivíduos e servem também para mostrar aos profissionais de saúde o seu papel significante na iniciativa.
Pensando nisso, foram feitas algumas entrevistas que tiveram como objetivo observar o que alguns artigos indicam, ou seja, como é que homens lidam com a sua saúde e como a sociedade influencia sobre o seu corpo, modo de agir e interação entre homem e saúde, tanto ela no sentido hospitalar como a do dia-a-dia. Foi quase uma unanimidade de que homens só procuram uma unidade hospitalar apenas quando “algo diferente do habitual aconteceu na vida dele” como bem disse a enfermeira Geise do posto de saúde 4-Ceilândia.
Segue abaixo entrevistas realizada com a população e profissionais da área:

Geise (enfermeira do posto de saúde 4-Ceilândia):
Marcos, 44 anos:
Rauzi Alexandre, 43 anos: 



          Antônio, 54 anos- vigia do posto de saúde 4 de Ceilândia

Entrevistador (En): "Procura um atendimento médico frequentemente?"
Antonio (A): "Vou ao hospital pelo menos uma vez no ano, vou mais quando estou em situação de emergência. Tenho que fazer cheque up de 6 em 6 meses, por causa da hipertensão.”
(En): "Acredita que a masculinidade atrapalha o homem a procurar os serviços de saúde?"
(A):  "A masculinidade atrapalha, o homem é muito dificil de ir ao médico.”
(En): "Há impedimentos no trabalho, que não permitem que o senhor procure o serviço de saúde?"
(A): "Eu trabalho dia sim dia não então o trabalho não atrapalha, não vou por falta de interesse.”
(En): "Têm hábitos saudáveis?"
(A): "Tento manter uma alimentação saudável, mas eu bebo e fumo.”
(En): "Possui algum plano de saúde?"
(A): "Tenho plano de saúde.”
(En): "Teria alguma crítica ou sugestão para melhorar a relação do homem com os centros de saúde?"
(A): "A saúde não se interessa pelo problemas do homem, tem que ter mais programas de saúde para o homem não só para a mulher. Trabalho aqui no posto há 34 anos e não vejo nenhuma sala própria para o homem apenas para mulheres.” 

            Welington Oliveira Costa, 24 anos:

Entrevistador (En): "Olá, Welington.bom dia!"
Welington (W): "Bom dia!"
En: "Então, você como um joven da sociedade brasileira,alguma vez já pensou no cuidado com a sua saúde? Por exemplo, pela alimentação ou algo do tipo?
W: Olha, desde que eu larguei a escola para ir trabalhar, eu levo uma vida corrida. As vezes chego em casa tarde, só tem um miojo pra comer ali rapidinho, então fica bem difícil comer direito."
En: "E quanto a exercício físico? Você pratica algum?"
W: "Trabalho, não tenho tempo pra isso (rs)"
En: "Mas nem no final de semana?"
W: "Final de semana eu quero descansar, né? Principalmente porque só tenho uma folga na semana, tenho que aproveitar do jeito que dá."
En: "Você procura unidades de saúde com frequência?"
W: "Não..."
En: "Nem quando os sintomas são realmente fortes?"
W: "Pra te falar a verdade, só procurei o doutor quando eu sofri um acidente no ombro, em que eu tive até que botar um pino, aqui ó (mostrou o pino). Fora isso, eu não vou."
En: "Mas você não vai por que não quer, ou por que alguma coisa te atrapalha? Por exemplo: trabalho, tempo..."
W: "Ah, vei, eu não vou porque eu já saro sozinho e por causa que procurar médico pra que, se a gente sempre ve que não tem médico na televisão."
En: "Você não acha que seria interessante, algum dia, fazer alguns exames de rotina só pra ver se está tudo em ordem?"
W: "Bem que eu queria, mas não vou gastar minha folguinha pra isso..."
En: "Mas é só pegar atestado!"
W: "Pois é, quem sabe um dia..."
En: "Então tá ok, sr. Welington, muito obrigado"
W: "De nada."


           O senhor Rauzi Alexandre, 43 anos, também abordou o tema falando que “antes da diabetes dificilmente ia ao médico” mostrando que ações preventivas de saúde nem sempre são valorizadas e feitas pelos homens no Brasil. À questão do trabalho não é unanime, alguns falam que o trabalho atrapalha no sentido de que não pode faltar, pois podem se prejudicar, outros não encontram esse tipo de dificuldade, já que podem sim faltar por questões de saúde. Recursos também foram citados pelos entrevistados, em que se chega à unidade de saúde, seja ela no posto ou até mesmo em uma UPA e o atendimento não é feito pela falta de médico ou de recursos. A enfermeira Geise, em contrapartida, demonstrou o outro lado da moeda, de que mesmo que não haja o recurso no dia específico em que a unidade foi procurada, talvez dali a 15 dias possa ser que o problema tenha sido solucionado. Outra questão que pode ser ressaltada é a de que o governo tem programas e campanhas que se fossem bem executadas poderiam facilitar a vida de todos, mas por falta de recursos e de preparo esse atendimento não chega à população não se restringindo aos homens, mas a todos os grupos (mulheres, crianças, idosos...).


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